quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A CAIXA DE SKINNER ME LIBERTOU DA RELIGIÃO

Caixa de Skinner

Quem estuda ou estudou psicologia sabe que “Caixa de Skinner” é o nome de uma ferramenta para pesquisas em comportamento animal que, geralmente é utilizada nas aulas de graduação nos primeiro períodos, cuja finalidade é demonstrar o como um comportamento pode ser modelado: Isso quer dizer que, se aplicarmos as devidas recompensas ou punições, podemos manipular o comportamento (até certo ponto) da forma como queremos. Geralmente esta caixa, feita de um material acrílico transparente, é utilizada para fazer este tipo de exercício com ratos de laboratório: coloca-se um rato sem nenhum tipo de treinamento e, a cada vez que ele pressionar uma barra, ele é recompensado com uma gota de água. Desta forma o rato vai aprendendo que, suas ações são recompensadas se ele emitir determinado tipo de comportamento, mesmo não tendo a ideia de que existe uma pessoa do outro lado apertando um botão para isto.

A única coisa que esta pessoa quer é manipular o comportamento do rato, pela simples vontade de aprender a fazê-lo, ou para qualquer outra finalidade. Só que tal tipo de exercício não funciona somente com rato: pode ser feito com pombos, cães, outros animais, e também com o ser humano.

Todavia, a caixa de Skinner humana é um pouco maior e não é feita de materiais físicos (por mais que possa ser também), mas é composta por forças que também são extremamente capazes de modelar o comportamento humano: essa caixa de Skinner humana se chama “cultura”.

A cultura é um conjunto de produções simbólicas e afetivas que se expressa através de uma série de informações, tecendo redes de poder e significação que, por sua vez ditam a vida do ser humano: é por isso que falamos português e não chinês, afinal, nascendo no Brasil, o que aprendemos é o que nos foi determinado pela sociedade que aqui estava antes de nascermos. Todavia, a cultura, expressada pela sociedade, manifesta-se através de diferentes tipos de agências, que por sua vez são utilizadas para regularem as relações entre os homens, sendo as mais conhecidas a família, a escola, a igreja, o trabalho, etc.

Assim, tais agências não regulam somente os comportamentos mais “visíveis” do ser humano, mas também os invisíveis, moldando a maneira como os homens sentem, percebem, interpretam e se comportam no mundo. Por isso é comum que pessoas que nasçam em uma religião, não tendo muita condição de conhecer coisas além desta caixa de Skinner, permaneçam nela, assim como nos casos em que pessoas acreditam piamente que só serão felizes se casarem, tiverem filhos, ou que sua vida seria melhor se tivesse nascido na Finlândia. Enfim, as pessoas vivem e se comportam com base nestas determinações culturais.

Quando entrei na faculdade, dos 16 para os 17 anos, eu era uma pessoa muito religiosa, e saí da mesma sendo uma pessoa totalmente antirreligiosa (note que isso não significa ser uma pessoa atéia), por ter entendido que, grande parte das coisas que se falavam em uma agência religiosa era sem fundamento: isso foi a tipificação de Mateus 15:14, “cegos que queriam guiar outros cegos” (paráfrase). Porque falo isso? - Não, não estou cuspindo no prato em que comi, afinal conheci muita gente boa e legal (mas também conheci muita gente que não precisaria ter conhecido), e aprendi muito com elas, mas isso não me faz ter que concordar com todas as suas práticas, não é mesmo?! – Falo isto porque, quando uma pessoa se dispõe a ensinar outra, ela deve pelo menos saber do que está falando, e muitas vezes as pessoas não sabiam. Em nome de um livro que pouco conheciam, replicavam um “cristo” que lhes foi apresentado por fontes secundárias (poucos pessoas haviam lido seu livro sagrado inteiro pelo menos uma vez, sequer o estudaram), fazendo ensinamentos que eram cheios de tradicionalismos vãos, modismos baratos, teologias mancas, interpretações distorcidas e pensando que qualquer arrepio na nuca era uma “comunicação divina”.

Muitos me perguntam se sou “revoltado com a igreja”... Não! Sou revoltado com as empresas religiosas! Igreja é um conceito relacional revolucionário que surgiu na palestina do século I, com base na fraternidade dos homens, sem ritualismos, sem aprisionamentos e sem hipocrisias.

Um dos versículos mais comentados de todos os tempos é: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” João 8:32 , mas é um versículo não seguido pelos religiosos! Ora, quantas vezes eu tive que escutar de gente tola de que a “faculdade afastava as pessoas de Deus” ou de que “ciência e fé não combinam”... NÃO, NÃO e NÃO! Ciência afasta o homem das crendices e da religiosidade, nunca de Deus! Ciência afasta o homem da religião, nunca da fé!

Não existe nada no mundo, na ciência, na filosofia que seja conclusivo contra a existência de um Deus, mas existe muita coisa na ciência que mostre o quanto os rituais são mecanismos de modelagem do comportamento humano e que você não precisa de nenhum ritual para ser bom. Isso me fez compreender de verdade a noção do cristianismo: crer no Deus do amor, e o amor é invisível.

Porque estou escrevendo este texto: porque estou cansado de gente que fica com “quem te viu quem te vê”, “nossa como você tá mudado”, “você desviou por quê?” ou qualquer coisa do gênero. É lógico que eu mudei, vi o tanto de ensinamentos que me eram empurrados como se fossem coisas “sagradas”, mas que nada mais eram do que um pacote de condicionamentos culturais. É lógico que mudei, fiquei muito mais crítico às mentiras que pareciam verdades que me eram enfiadas garganta abaixo. Não descri de Deus em nenhum momento, minha fé nele nunca se abalou, mas não tenho paciência para rituais vazios feitos entre quatro paredes.


E por fim, mudei mesmo minha forma de pensar, não sou um poste que fica sempre no mesmo lugar. Não tenho compromisso com nenhuma posição que eu julgue estar errada. E tenho um recado para os que se diziam meus “irmãos na fé”, mas que nunca comeram sequer um “x-tudo” comigo, ou que me perguntaram como eu estava nestes quase 10 anos longe de sua empresa religiosa: Estudem sobre sua fé, busquem a verdade, e amem de verdade, não só de aparência, mas não pensem que quem não concorda com seu jeito de pensar é vil e desprezível, pois tanto esta pessoa quanto você tem 50% de chances de estarem certas, ou erradas.

Um comentário:

  1. Olá, Murrillo, que maravilha ter encontrado seu blog. Espero, de coração, que ele cresça. Procure um template bem legal para dar mais visibilidade e cor para seu blog.

    Olha, comecei um blog agora há pouco, ele se Chama Sessão de Literapia. Como amante da Literatura e da arte em geral e da Psicologia , só poderia ser esse o nome. Hehehe. Caí aqui de paraquedas no seu blog pelo texto "Porque deixei de ser evangélico".

    Um abraço. Excelente texto. Cultura= a grande caixa de Skinner.

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