Caixa de Skinner |
Quem estuda ou estudou psicologia
sabe que “Caixa de Skinner” é o nome de uma ferramenta para pesquisas em
comportamento animal que, geralmente é utilizada nas aulas de graduação nos
primeiro períodos, cuja finalidade é demonstrar o como um comportamento pode
ser modelado: Isso quer dizer que, se aplicarmos as devidas recompensas ou
punições, podemos manipular o comportamento (até certo ponto) da forma como
queremos. Geralmente esta caixa, feita de um material acrílico transparente, é
utilizada para fazer este tipo de exercício com ratos de laboratório: coloca-se
um rato sem nenhum tipo de treinamento e, a cada vez que ele pressionar uma
barra, ele é recompensado com uma gota de água. Desta forma o rato vai
aprendendo que, suas ações são recompensadas se ele emitir determinado tipo de
comportamento, mesmo não tendo a ideia de que existe uma pessoa do outro lado
apertando um botão para isto.
A única coisa que esta pessoa
quer é manipular o comportamento do rato, pela simples vontade de aprender a
fazê-lo, ou para qualquer outra finalidade. Só que tal tipo de exercício não
funciona somente com rato: pode ser feito com pombos, cães, outros animais, e
também com o ser humano.
Todavia, a caixa de Skinner humana
é um pouco maior e não é feita de materiais físicos (por mais que possa ser
também), mas é composta por forças que também são extremamente capazes de
modelar o comportamento humano: essa caixa de Skinner humana se chama “cultura”.
A cultura é um conjunto de
produções simbólicas e afetivas que se expressa através de uma série de
informações, tecendo redes de poder e significação que, por sua vez ditam a
vida do ser humano: é por isso que falamos português e não chinês, afinal,
nascendo no Brasil, o que aprendemos é o que nos foi determinado pela sociedade
que aqui estava antes de nascermos. Todavia, a cultura, expressada pela
sociedade, manifesta-se através de diferentes tipos de agências, que por sua
vez são utilizadas para regularem as relações entre os homens, sendo as mais
conhecidas a família, a escola, a igreja, o trabalho, etc.
Assim, tais agências não regulam
somente os comportamentos mais “visíveis” do ser humano, mas também os
invisíveis, moldando a maneira como os homens sentem, percebem, interpretam e
se comportam no mundo. Por isso é comum que pessoas que nasçam em uma religião,
não tendo muita condição de conhecer coisas além desta caixa de Skinner, permaneçam
nela, assim como nos casos em que pessoas acreditam piamente que só serão
felizes se casarem, tiverem filhos, ou que sua vida seria melhor se tivesse
nascido na Finlândia. Enfim, as pessoas vivem e se comportam com base nestas
determinações culturais.
Quando entrei na faculdade, dos
16 para os 17 anos, eu era uma pessoa muito religiosa, e saí da mesma sendo uma
pessoa totalmente antirreligiosa (note que isso não significa ser uma pessoa atéia),
por ter entendido que, grande parte das coisas que se falavam em uma agência
religiosa era sem fundamento: isso foi a tipificação de Mateus 15:14, “cegos
que queriam guiar outros cegos” (paráfrase). Porque falo isso? - Não, não estou
cuspindo no prato em que comi, afinal conheci muita gente boa e legal (mas
também conheci muita gente que não precisaria ter conhecido), e aprendi muito
com elas, mas isso não me faz ter que concordar com todas as suas práticas, não
é mesmo?! – Falo isto porque, quando uma pessoa se dispõe a ensinar outra, ela
deve pelo menos saber do que está falando, e muitas vezes as pessoas não
sabiam. Em nome de um livro que pouco conheciam, replicavam um “cristo” que
lhes foi apresentado por fontes secundárias (poucos pessoas haviam lido seu
livro sagrado inteiro pelo menos uma vez, sequer o estudaram), fazendo
ensinamentos que eram cheios de tradicionalismos vãos, modismos baratos,
teologias mancas, interpretações distorcidas e pensando que qualquer arrepio na
nuca era uma “comunicação divina”.
Muitos me perguntam se sou “revoltado
com a igreja”... Não! Sou revoltado com as empresas religiosas! Igreja é um
conceito relacional revolucionário que surgiu na palestina do século I, com
base na fraternidade dos homens, sem ritualismos, sem aprisionamentos e sem
hipocrisias.
Um dos versículos mais comentados
de todos os tempos é: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” João
8:32 , mas é um versículo não seguido pelos religiosos! Ora, quantas vezes eu
tive que escutar de gente tola de que a “faculdade afastava as pessoas de Deus”
ou de que “ciência e fé não combinam”... NÃO, NÃO e NÃO! Ciência afasta o homem
das crendices e da religiosidade, nunca de Deus! Ciência afasta o homem da
religião, nunca da fé!
Não existe nada no mundo, na
ciência, na filosofia que seja conclusivo contra a existência de um Deus, mas
existe muita coisa na ciência que mostre o quanto os rituais são mecanismos de
modelagem do comportamento humano e que você não precisa de nenhum ritual para
ser bom. Isso me fez compreender de verdade a noção do cristianismo: crer no
Deus do amor, e o amor é invisível.
Porque estou escrevendo este
texto: porque estou cansado de gente que fica com “quem te viu quem te vê”, “nossa
como você tá mudado”, “você desviou por quê?” ou qualquer coisa do gênero. É
lógico que eu mudei, vi o tanto de ensinamentos que me eram empurrados como se
fossem coisas “sagradas”, mas que nada mais eram do que um pacote de
condicionamentos culturais. É lógico que mudei, fiquei muito mais crítico às
mentiras que pareciam verdades que me eram enfiadas garganta abaixo. Não descri
de Deus em nenhum momento, minha fé nele nunca se abalou, mas não tenho
paciência para rituais vazios feitos entre quatro paredes.
E por fim, mudei mesmo minha
forma de pensar, não sou um poste que fica sempre no mesmo lugar. Não tenho
compromisso com nenhuma posição que eu julgue estar errada. E tenho um recado
para os que se diziam meus “irmãos na fé”, mas que nunca comeram sequer um “x-tudo”
comigo, ou que me perguntaram como eu estava nestes quase 10 anos longe de sua
empresa religiosa: Estudem sobre sua fé, busquem a verdade, e amem de verdade,
não só de aparência, mas não pensem que quem não concorda com seu jeito de
pensar é vil e desprezível, pois tanto esta pessoa quanto você tem 50% de chances
de estarem certas, ou erradas.
Olá, Murrillo, que maravilha ter encontrado seu blog. Espero, de coração, que ele cresça. Procure um template bem legal para dar mais visibilidade e cor para seu blog.
ResponderExcluirOlha, comecei um blog agora há pouco, ele se Chama Sessão de Literapia. Como amante da Literatura e da arte em geral e da Psicologia , só poderia ser esse o nome. Hehehe. Caí aqui de paraquedas no seu blog pelo texto "Porque deixei de ser evangélico".
Um abraço. Excelente texto. Cultura= a grande caixa de Skinner.