Não sei porque motivo você entrou
em meu blog para ler este texto, talvez seja por curiosidade, talvez seja por
estar enfrentando ou ter enfrentando angústias existenciais por conta deste
meio social, ou talvez seja somente porque você é um filiado à qualquer
instituição religiosa evangélica ou católica e quer tirar as suas conclusões para reforçar
preconceitos disfarçados de “verdades bíblicas”, ou porqualquer outro motivo.
Conheci a igreja evangélica aos
10 anos de idade, e passei a frequentá-la por conta de bons exemplos de vida
que conheci entre algumas pessoas que ali frequentavam, e dou graças a Deus
pela vida destas pessoas. Passei oito preciosos anos aprendendo em uma igreja
evangélica que considerava bastante equilibrada para os padrões evangélicos da
época (meados dos anos 2000), onde tive a oportunidade de ter uma adolescência
saudável, construindo sentidos para viver: Ali aprendi que deveria amar o
próximo, aprendi que deveria ser temente a Deus, aprendi que deveria ser bom. Todavia, na medida em que ia crescendo neste meio, institucionalizava ainda
mais a minha fé e o meu comportamento, e passei gradativamente a me aproximar
da liderança da igreja, por possuir àquela época um desenvolvimento intelectual
e “espiritual” que me respaldava diante da igreja e me colocava cada vez mais
em evidência. Aos 10 anos, frequentava as aulas para crianças, aos 13 me
batizei, aos 15 dava aulas para crianças e adolescentes, aos 17 anos dava aulas
para formação de líderes na igreja (muitas vezes mais velhos que eu), aos 18
anos liderava um projeto missionário da igreja e já pregava na sede, encontros,
e em outras congregações.
Já vi muita coisa genuinamente
cristã ocorrer no meio evangélico, que foi o que me motivava acreditar na
legitimidade de tal movimento, mesmo começando a ter cada vez mais questões que
não era respondidas por líderes religiosos que deveriam me orientar no caminho,
mas que em um surpreendente movimento, começaram a me pressionar como se eu
fosse um adulto que, a despeito de meu desenvolvimento precoce, estava pronto
para entender todas as atitudes totalitárias e às vezes irracionais que tomavam.
E como eu tinha uma fé genuína, coisa que as decepções que tive com a “igreja”
não conseguiram destruir: Vi e vivenciei coisas que não convém dizer, pois são
do campo da fé e não do marketing, coisa que aprendi a diferenciar depois de um
tempo de fora da igreja.
Aos 18 anos, após uma série de
acontecimentos que envolveram decepções com a instituição religiosa, com a
postura dos líderes, com a de alguns “irmãos” (que na verdade eram inimigos de
alma), e com profundas convicções de que a igreja mataria toda a vida “espiritual”
que havia dentro de mim, decidi sair da mesma, o que para minha surpresa, foi a
decisão mais acertada da minha juventude. E passo a, por isto, explicar o
porque, deixei de ser evangélico:
Deixei de ser evangélico porque cansei de amor seletivo dos irmãos,
fruto da hipocrisia religiosa de quem não sabe lidar com seus conteúdos
emocionais doentios, ou que é incapaz de amar incondicionalmente como manda a
fé cristã. O amor cristão é genuinamente bom, e não é condicional à nenhum
estado de ser. Sabem do que eu estou falando os homossexuais ou transexuais que
sempre escutam “não temos preconceito” mas que ao entrarem em um templo tem que
lidar com dezenas de olhares tortos, como se fossem animais de circo. Também como quando vi que o amor dos irmãos por mim era condicional, na medida em que, quando me ausentei da igreja por anos, somente um amado irmão insistiu em manter laços fraternos comigo, o que me fez entender que, o amor eclesiástico só corre se você está nas mesmas quatro paredes que o grupo religioso. Assim
como cansei de ver histórias de pastores mandando cestas comemorativas com flores para médicos ou
políticos da igreja, parabenizando pelo nascimento de seus filhos, ao passo que
não via tal atitude acontecer com o irmãozinho mais pobre.
Deixei de ser evangélico porque cansei de gente com atitude autoritária
se basear em uma “pseudoautoridade” dada por “deus” (sic) para embasar suas
loucuras ou desmandos, assim como gente de duas caras que na frente do pastor
líder da igreja era de um jeito, mas nas costas era o seu total oposto. Vi
gente que era capaz de distorcer uma história de forma gigantesca só para “sair
por cima” e que hoje, é para minha incredulidade, igualmente pastor. Estas
pessoas infelizmente ainda não entenderam a diferença entre poder e autoridade,
sendo que a segundo é dada por Deus sendo respaldada pela sabedoria confirmada
pela comunidade e o poder é somente algo dado por uma hierarquia.
Deixei de ser evangélico porque cansei de fofocas de um povo que se reúne
para ser um clube social e não para ser um centro de amor e caridade, assim
como me cansei de frequentar um lugar que a pessoa tinha mais amigos na mesma
medida em que se vestia com roupas de grife.
Deixei de ser evangélico porque estava cansado de ver gente ignorante
sendo aclamado líder por pessoas que precisavam de instrução e não de placebos
da fé ou opiáceos intelectuais, pois dia após dia via gente ensinando
besteira, falando coisas improcedentes ou dando ensinamentos tão rasos que
patinavam em tautologias descomunais. Tais coisas faziam com que os irmãos
tivessem cada vez menos oportunidade de desenvolverem uma fé que não fosse um
aborto da razão, ou um suicídio intelectual.
Deixei de ser evangélico porque cansei de fazer perguntas sinceras e
receber como respostas chavões gospeis que não respondiam nada, mas
aumentavam em muito a certeza de uma falsa sabedoria de quem os proferia. Isso
era fruto da falta de estudo teológico de pastores preguiçosos que batiam no
peito para arrogar-se do fato de que não tinham estudo mais haviam crescido na
vida, e ainda tinham a torpe capacidade de dizer que “a letra mata, mas o
espírito vivifica” (II CO 3:16) para validar a sua ignorância, negligenciando
que tal texto se tratava de uma alusão à superação do modus operandi do Velho Testamento pela Era da Graça inaugurada por
Cristo.
Deixei de ir para a igreja evangélica porque aprendi que o correto era
SER IGREJA, e que o que eu fazia era frequentar uma instituição religiosa,
sendo que a fé cristã não nasceu institucionalizada, muito menos para possuir
uma sede fixa. Ao olharmos para os evangelhos, veremos Jesus utilizando um
método social de ensino: Ele caminhava entre os pobres, prostitutas, mendigos, “pecadores”
e não se fixou em lugar nenhum. Ele ensinou que “igreja” é um conceito
relacional (Mt 18:20) e que Deus não habita em templos (At 17:24), e muito
menos estabeleceu uma liturgia como vemos nas igrejas onde se cantam 5 músicas,
tira-se a oferta, prega-se por uma hora, ora-se por 5 minutos e despede-se com
os avisos, mas estabelceu a ordem (II Co 14:26-40) como fundamento de um culto
racional (Rm 12:1-2).
Deixei a igreja evangélica porque aprendi que ela era a reprodução de
um modelo pagão que possui fundamentos na Grécia (At 17:16-34), que foi
renunciado na Cruz de Cristo. Na Grécia antiga, onde o politeísmo imperava, o “homem
sábio” (mais tarde identificado com o sacerdote cristão) era colocado no lugar
alto e falava para a plateia, sentada em um anfiteatro que em pouca coisa
difere dos templos atuais. Ao olhar para os modelos primários de reunião dos
cristãos (At 2:42-47), vemos que estes eram totalmente diferentes do que os
atuais, que são mais parecidos aos Greco-romanos.
Deixei de ser evangélico porque cansei de ver gente torcendo a Bíblia
de todas as formas para satisfazer seus mais diferentes intentos, mesmo
ouvindo por parte de pastores a máxima de que “texto sem contexto é pretexto
para heresia” vivia recebendo destes, centenas de interpretações bíblicas
parciais ou descontextualizadas. O que tais líderes não entendiam é que, a
Bíblia como um todo, precisava ser contextualizada, analisada levando-se em
conta o grande abismo cultural, literal, histórico, psicológico, político e
ideológico que nos separa dos seus escritores há 2 mil anos. Assim como também
encontrava neste a contradição de quem queria reduzir toda a grandeza de um
Deus infinito às cerca de mil páginas um livro finito, sendo que o ápice de sua
revelação é própria natureza que nos rodeia (Rm 1:19-20) e que o papel é
somente um referencial de uma das inúmeras revelações que Deus entregou para a
humanidade.
Deixei de ser evangélico porque cansei de ver a contradição de pessoas
que questionavam a idolatria da igreja católica, mas colocavam pastores,
líderes ou mesmo o dinheiro como ídolos de seus corações, tornando-se cada
vez mais robotizados e menos humanos.
Deixei de ser evangélico porque cansei de ver gente utilizando o Antigo
Testamento para rejudaizar a igreja, ou para selecionar as leis que os
interessavam para oprimir os leigos na fé e para desfazer o sacrifício na cruz
através da imposição de novos sacrifícios dos irmãos, pois entendi que a
lei foi abolida (Gl 3:24-25) por Cristo que a cumpriu (Mt 5:17-18), para que o
mesmo tivesse autoridade entre os homens para mostrar que a lei mata, mas a
graça como expressão do Espírito de Deus, é que salva os homens mediante a fé
(Cl 2:13-14; Ef 2:8-9), assim como
entendi que o dízimo, tão amado pelos pastores, foi abolido porque se tratava
da época da lei.
Deixei de ser evangélico porque entendi que o modelo de igreja era
empresarial e não orgânico como aponta a história do cristianismo primitivo e a
bíblia, pois Deus estabeleceu a igreja como um corpo relacional onde os
ministérios não estavam submetidos uns aos outros por ordem hierárquica, mas
eram respeitados por sua funcionalidade para o aperfeiçoamento da vida cristã (Ef
4:7-12), e que a partir de Cristo, todos
os crentes em Deus se tornavam sacerdotes (I Pe 2:5,9; Ap 1:5-6; Ap 5:9-10),
e não somente o pastor, ou o apóstolos,
e estes não eram “superiores” em nada aos demais, possuindo somente funções
diferentes.
Saí da igreja evangélica porque cansei de ver pessoas pregando uma coisa
e vivendo outra, como expressão mais pura da mentira e da hipocrisia humana.
Especificamente por ter aprendido por líderes religiosos que autojustificação
era pecado (Rm 8:33), mas que diante da primeira acusaçãozinha os mesmos
corriam para frente da igreja para fazer um showzinho de justificação do ego.
Poderia apontar inúmeros outros
motivos, mas os que listei já me fizeram entender de uma vez por todas que
evangelicalismo e cristianismo são coisas totalmente diferentes e que, assim
como protestantes tiveram que se desvencilhar da igreja católica no século XVI
para reformar a fé cristã que havia sido corrompida àquela época por inúmeros
fatores, hoje também temos que encontrar meios para desinstitucionalizarmos a
fé cristã genuína destes sistemas, sejam eles católicos, evangélicos ou o que sejam, pois estes estão cada vez mais religiosos e menos
piedosos, lembrando que a religião, fora do que está descrito em Tg 1:26-27,
nada mais é do que um sistema para controlar os homens e extrair deles poder
político, escravizando-os e levando-os para longe de onde Cristo os levou: “Para
a liberdade, foi que Cristo nos libertou” Gl 5:1.
Maranata, Jesus!
incrível, gostaria de ter contato com vc, Deus o abençoe
ResponderExcluirA Paz do Senhor amado! Sabias palavras! Reflete exatamente o imbróglio que se tornou a igreja evangélica, em especial as tradicionais, como Assembleia de Deus, Batista e Presbiteriana.
ResponderExcluirDeus continue abençoando a sua vida irmão!
Também estou vivenciando esse mesmo conflito...18 anos de conversão, presbítero.No entanto, cheio de dúvidas e questionamentos. Deus é muito mais do que isso que vivemos em nossas doutrinas.
ResponderExcluirAmei as palavras tbm estou vivendo o mesmo problema
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