sábado, 23 de fevereiro de 2013

EXISTE COMPREENSÃO MÚTUA NO DIÁLOGO ENTRE ESQUIZOFRÊNICOS?

Um dos fenômenos mais interessantes que presenciei em psicopatologia ocorreu durante uma de minhas visitas para estudos em uma Clínica Psiquiátrica durante a faculdade. Conversando com um dos pacientes internos, estávamos eu e minha parceira tentando conhecer um pouco o caso clínico de um esquizofrênico, quando de repente chega outro paciente esquizofrênico no meio da conversa. O momento interessante se deu quando um deles falou “_Escuta ai, os alienígenas estão se comunicando, pega essa frequência [de rádio que passava dentro da cabeça dele/fazendo sinal com as mãos sobre sua cabeça], você tá ouvindo?” ao passo que o outro paciente responde “_Não estou ouvindo não”, “Espera ai que eu vou sintonizar a onda e mandar para você...[Faz um semblante de que está fazendo força mental]... Pronto e agora?”, “_Não [Vira para mim e diz], esse cara é maluco!” (Confesso que a cena foi muito engraçada).

O mais fantástico era que eu estava na expectativa de haver algum tipo de “esquizofrenia coletiva” ou que, de certa forma o delírio do primeiro paciente se tornasse acessível ao segundo por algum tipo de indução psicológica, mas o que presenciei foi que EXISTE AUTONOMIA no delírio de cada indivíduo esquizofrênico. Com essa lição aprendi algo importante: A CONSTRUÇÃO DA ESQUIZOFRENIA na vida de uma pessoa tem uma ligação direta com a história e o tipo de vida que cada paciente possui. Neste sentido, aprendi algo com Vygtosky (1931/1994) que diz que as leis que governam o pensamento de um esquizofrênico são totalmente diferentes e qualitativamente únicas e que, o significado da fala de cada paciente é modificado tornando-se qualitativamente acessível somente a ele.

Obs.: Existe compreensão entre pacientes esquizofrênicos em palavras cujos significados não tenham sido deteriorados pela condição esquizofrênica. Quanto maior a deterioração, maior a dificuldade de compreensão, pois o repertório vocal dos esquizofrênicos começam a operar de uma forma qualitativamente única.

Referência

VYGOTSKY, L.S. Thought in schizophrenia. In: VALSINER, J. & VAN DER VEER, R. (eds.) The Vygotsky reader. Oxford, UK; Cambridge USA: Basil Blackwell, 1994. p. 313-326.

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