Um dos fenômenos mais interessantes que presenciei em psicopatologia ocorreu durante uma de minhas visitas para estudos em uma Clínica Psiquiátrica durante a faculdade. Conversando com um dos pacientes internos, estávamos eu e minha parceira tentando conhecer um pouco o caso clínico de um esquizofrênico, quando de repente chega outro paciente esquizofrênico no meio da conversa. O momento interessante se deu quando um deles falou “_Escuta ai, os alienígenas estão se comunicando, pega essa frequência [de rádio que passava dentro da cabeça dele/fazendo sinal com as mãos sobre sua cabeça], você tá ouvindo?” ao passo que o outro paciente responde “_Não estou ouvindo não”, “Espera ai que eu vou sintonizar a onda e mandar para você...[Faz um semblante de que está fazendo força mental]... Pronto e agora?”, “_Não [Vira para mim e diz], esse cara é maluco!” (Confesso que a cena foi muito engraçada).
O mais fantástico era que eu estava na expectativa de haver algum tipo de “esquizofrenia coletiva” ou que, de certa forma o delírio do primeiro paciente se tornasse acessível ao segundo por algum tipo de indução psicológica, mas o que presenciei foi que EXISTE AUTONOMIA no delírio de cada indivíduo esquizofrênico. Com essa lição aprendi algo importante: A CONSTRUÇÃO DA ESQUIZOFRENIA na vida de uma pessoa tem uma ligação direta com a história e o tipo de vida que cada paciente possui. Neste sentido, aprendi algo com Vygtosky (1931/1994) que diz que as leis que governam o pensamento de um esquizofrênico são totalmente diferentes e qualitativamente únicas e que, o significado da fala de cada paciente é modificado tornando-se qualitativamente acessível somente a ele.
Obs.: Existe compreensão entre pacientes esquizofrênicos em palavras cujos significados não tenham sido deteriorados pela condição esquizofrênica. Quanto maior a deterioração, maior a dificuldade de compreensão, pois o repertório vocal dos esquizofrênicos começam a operar de uma forma qualitativamente única.
Referência
VYGOTSKY, L.S. Thought in schizophrenia. In: VALSINER, J. &
VAN DER VEER, R. (eds.) The Vygotsky reader. Oxford, UK;
Cambridge USA: Basil Blackwell, 1994. p. 313-326.
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