sexta-feira, 30 de março de 2012

Confissões de um paciente suicida, terapia medicamentosa e o modelo hospice

Era mais uma aula de Psicopatologia na Clínica Psiquiátrica com seus estudantes de psicologia dispostos em um círculo sob o centro da sala. A proposta do dia era simples, apresentar a anamnese de um paciente.

Sob o frio do ar condicionado que refrigerava o ambiente, e tutela do professor Mestre em Psiquiatria, fomos apresentados ao Paciente “G”, de 20 anos. O rapaz era alto, forte, moreno, e muito limpo se comparado aos padrões dos demais pacientes da clínica. Sentou-se no meio do grupo em uma cadeira confortável e começou a narrar, em uma entrevista, sua história, de forma sem vida e com olhar vago sobre o horizonte.


Após apresentar a história suas mazelas, o que não difere de muitas outras apresentadas por diversos pacientes da clínica, fomos capazes de perceber a lucidez de seu relato: Tivera uma vida sofrida, uma infância problemática, separada do pai, reprovou diversas vezes no ensino fundamental e tivera problemas de socialização. Neste cronograma, havia tentado suicídio por 2 vezes e na 3ª tinha sido trazido às pressas para a clínica, na qual tinha ficado amarrado com cordas por um dia inteiro para se acalmar. Enfim, nada de tão diferente do relato de um paciente suicida, porém a fala marcante e clara se sobrepôs a qualquer relato clínico que pudemos coletar:

“Isso aqui é uma bosta, eles tratam a gente à base de remédio, e tudo remédio forte, às 8, 12, 14, 18 horas. Não tem um acompanhamento psicológico, se uma pessoa quiser se enforcar aqui ela faz. Aqui não tem cura, se eu sair daqui e não melhorar eu me mato, não penso duas vezes. Aqui a gente vive dopado.” (G. 20 anos)

Acredito que a fala diz tudo por si. Uma pessoa mentalmente perturbada, ou “doente” não o é por que quer. Assim como uma pessoa adoece no físico, também pode adoecer no psíquico. Neste sentido cabe a nós perceber que, nascemos para ser sadios e que a cura é o contraponto da doença e que esta deve ser buscada.

A terapia medicamentosa é um grande passo para tratar o biológico, mas como podemos ver na fala do paciente e nos indagar: O que resgatará o sentido da vida de uma pessoa? Remédios não podem trazer a cura para feridas que foram abertas pela sociedade. Dores emocionais tem na maioria das vezes raízes sociais, e remédios apenas dopam, não tratam. Remédios são auxiliares no processo por tratarem do aparato biológico, mas quem reorientará essas pessoas no mundo?

E por fim fica a reflexão: Nem todo paciente em um hospital psiquiátrico é “doido” e nem todo aquele que está “solto” no mundo social é são.

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