domingo, 30 de janeiro de 2011

Resenha: "Psicanálise: Ciência ou linha partidária?" De Erich Fromm

Por Murillo Rodrigues dos Santos

Erich Fromm escreve este artigo para demonstrar como a psicanálise assume uma postura fanática e dogmática diante da produção freudiana. Fromm começa o texto com um reconhecimento à Psicanálise como um tratamento para a cura da neurose e uma teoria científica sobre a natureza humana mas, mostra por outro lado que a psicanálise tem assumido uma postura religiosa.

From revela a existência de uma cúpula psicanalítica composta por Freud e mais seis de seus seguidores que eram as pessoas responsáveis por determinar fanaticamente e totalitariamente o que “era” psicanálise ou não, ou seja, seriam estes os responsáveis por manter a pureza da doutrina freudiana.

São colocados dois nomes como os primeiros dissidentes da psicanálise: O de Otto Rank (1884-1939) e Sándor Ferenczi (1873-1933). Assim, Fromm acusa Ernest Jones (1879-1958) de ser o causador de uma série de intrigas entre Freud e Rank, fazendo com que ocorresse uma abrupta cisão entre Rank e a Associação Psicanalítica Internacional (IPA). Aqui começava a se desfazer a “corte” dos seis. Ferenczi saiu mais tarde e de uma forma mais gradativa.

Após as dissensões, Jones nomeia Rank e Ferenczi como traidores e, no caso de Rank, diagnosticá-lo de Psicótico Maníaco-Depressivo. Todavia Jones possui um lugar privilegiado na história, por ser o homem que a conta, sendo o biógrafo oficial de Freud e tendo historicamente um caráter duvidoso, o que facilita a sua versão dos fatos.

Fromm demonstra em seus escritos que Freud era amplamente influenciado por Jones à tomar suas decisões e que era portador de uma intolerância sem par e incapaz de perdoar algum amigo que tivesse “traído a psicanálise”. “Jones supõe, aparentemente, que somente uma mente enferma pode acusar Freud de autoritarismo e hostilidade” (Fromm, 1965, p. 110), fala que demonstra o endeusamento de Jones em relação à Freud. Em tudo isso Fromm reafirma o tratamento áspero e mau que Freud ofereceu a seus velhos discípulos e amigos pessoais.

Assim, Erich Fromm segue nas suas investigações sobre como a psicanálise chegou a ser uma linha partidária, dogmática tão forte e levanta uma questão crucial na sua análise. Ele coloca o interesse de Freud para com a política, fazendo a ressalva de que Freud poucas vezes havia manifestado esse interesse e que o mesmo poderia ser inconsciente. Fromm mostra que Freud muitas vezes havia manifestado interesse em algumas questões que estavam sendo postas pelo socialismo, e também por seu interesse em adentrar na Fraternidade Internacional de Ética e Cultura, em 1910, posto que foi dissuadido por Jung, acabou criando o Movimento Psicanalítico Internacional, que “viria a ser uma continuação desse plano” (Fromm, 1965, p. 113).

Sob as motivações de Freud, Fromm (1965) escreve

Seu objetivo era o controle das paixões irracionais pela razão, a libertação do homem em relação à paixão dentro das possibilidades humanas. Estudou as fontes das paixões a fim de ajudar o homem a dominá-las. Sua finalidade era a verdade, o conhecimento da realidade; para ele, esse conhecimento era a única luz orientadora do homem na terra. Esses objetivos eram tradicionais ao Racionalismo, ao Iluminismo, e à Ética puritana. Foi o gênio de Freud que os ligou com uma nova compreensão psicológica da dimensão das fontes ocultas e irracionais da ação humana. (p. 114)

Assim, coloca-se que o inconsciente de Freud era guiado muito mais do que pela busca da cura ou do tratamento das moléstias psicossomáticas que afligiam as pessoas da época, mas sim pela busca do status de um dos maiores líderes ético-culturais do século XX.

Enfim, Fromm defende a ideia de que a psicanálise tenha se tornado uma linha partidária seguindo os interesses inconscientes de Freud para se tornar um grande líder cultural de seu século, e isso exigia um determinado rigor puritano e racionalista que deveria ser seguido à risca. Assim, Freud elege uma intolerância à multiplicidade de ideias como um mecanismo de defesa de suas teorias, fazendo com que a psicanálise deixasse de ter aquele tom revolucionário e caísse na burocracia a qual se encontra pressa até os dias atuais. Fromm também sugere a necessidade que a psicanálise se encontra de uma severa revisão de suas teorias sob o ponto de vista humanístico e dialético para voltar aos caminhos da “pesquisa da verdade” (Fromm, 1965, p. 115).

Referências

Fromm, E. (1965). O dogma de Cristo e outros ensaios sobre religião, psicologia e cultura (2ª Ed.). W. Dutra (Trad.). Rio de Janeiro: Zahar Editores.

0 comentários:

Postar um comentário