domingo, 30 de janeiro de 2011

Religiões no Brasil - Atlas Histórico Istoé

RElLIGIÕES / IGREJAS
O maior país católico do mundo é também, durante séculos, exclusiva e compulsóriamente fiel à Igreja de Roma. Só com o tratado de 1810, e contrariando o núncio apostólico, a coroa abre exceção para o culto anglicano, professado por comerciantes e diplomatas ingleses, ainda assim com restrições (os lugares de culto não podem ter aparência de templo, nem sinos). A constituição de 1824 estende a permissão a outros cultos cristãos, devido a chegada das 1as levas de imigrantes de confissão luterana. Porém o catolicismo permanece a religião do Estado e dispõe de regalia que resguardam um virtual monopólio (até 1881 apenas católicos tem, por exemplo, direito de voto). Seu concorrente espiritual na época é a maçonaria, com penetração restrita às elites, mas protagonista da Questão Religiosa de 1872-1875, 1º abalo no domínio católico. A república de 1889, sob influência positivista separa Igreja e Estado, estabelece o ensino laico, o casamento e o registro civis obrigatórios; mas o catolicismo logo recupera foros de igreja ociosa, reforçados nos anos 30 com o atendimento das reivindicações católicas e ainda hoje não de todo extintos (o 12/10, dia de N. Srª de Aparecida padroeira do Brasil d. 31, ainda hoje é feriado nacional).

Os cultos afrobrasileiros são criação coletivas dos negros aportados como escravos desde o século 16, que trazem consigo suas divindades, Orixás (dos Iorubás), Voduns (dos Jejes), Inquices (dos angolacongenses) . A sociedade escravista catequiza os escravos, em especial após a bula Immensa Pastorum (1741), do papa Bento XIV, afirmar que os negros também tem alma; de outro lado, permite em geral os batuques (práticas religiosas), visando manter acesas as divisões étnicas no meio da escravaria. . Processa-se ai o sincretismo de elementos religiosos de diversos povos africanos, com predomínio do culto ioruba (nagô), elementos de outras religiões da África negra e muçulmanos, mesclados ainda com a influência católica e indígena. Em meados do século 19, após forte afluxo de escravos Iorubás para a BA (quando o Daomé arrasa o reino Iorubá) surgem em Savador os candomblés (do quicongo Ka-n-domb-el-e, ação de orar). O 1º Ilê Axé Iya Nassô (ainda funciona no bairro do Engenho Velho) e muitos de seus contemporâneos nasce sob a cobertura de irmandades católicas. Já no século 20 surge no RJ a umbanda, hoje com mais fies no país que o candomblé, com marcada presença de elementos sincréticos, sobretudo do espiritismo kardecista.

Os cultos evangélicos (após ensaios dos séculos 16-17, que não tem seguimento) implantam-se no início do século 19 ligados a núcleos de colonos ou residentes europeus e norteamericanos. A evangelização de novos fiéis começa em 1855, sob o impulso de missões vindas dos EUA (difunde-se então a denominação crente, pejorativa, enquanto os fiéis dessas igrejas passam a denominar-se evangélicos e o termo protestante tem uso restrito). No entanto , até 1940 os evangélicos são basicamente herdeiros de confissões religiosas trazidas ao Brasil por seus avós europeus, sobretudo alemães; a metade deles se concentra em 3 Estados (RS, SC e ES) com forte influência de imigração alemã.



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Uma onda de conversões tem início em meados do século. As imigrações em geral e a metropolização em particular, somadas às incertezas da crise social e à crescente secularização da sociedade, abalam certezas, lealdades e hábitos espirituais cristalizados há anos.

O movimento pentecostal (surgido nos EUA em 1906 e introduzido no Brasil já em 1910) dá novo impulso ao proselitismo evangélico, conquista multidões de fiéis e no início dos anos 60 forma a maioria dos evangélicos no país. A partir daí o chamado pentecostalismo autônomo acelera ainda mais o ritmo das conversões. As novas igrejas proliferam, em geral, a partir de cisão de igrejas mais antigas; Um censo efetuado em 90-92 no Grande Rio conta só ai 85 denominações. O pentecostalismo autônomo valoriza as curas divinas e outros milagres, bem como o exorcismo de demônios; pratica uma religião mais tangível, que oferece perspectivas terrenas e imediatas, de prosperidade, ascensão, saúde, harmonia familiar. Desde o início faz amplo emprego do rádio e TV. Seus templos se multiplicam rapidamente, da periferia das grandes cidades às áreas de fronteira agrícola; na virada dos anos 80 já superam os católicos em número. Um eficiente sistema de estímulo de dízimo (contribuição financeira dos fiéis) sustenta a expansão. Os fiéis provém na maioria das camadas mais pobres; apresentam taxas superiores à média de desemprego, sub-emprego e analfabetismo.

A Igreja Universal do Reino de Deus, fundada em 77 no bairro da Abolição, periferia do Rio, pelo bispo Edir Macedo, é a denominação que cresce mais rápido. Em 90 compra por US$ 45 milhões a TV Record, centro de um pujante sistema de rádio e TV (45 emissoras em 95). Abre pelo país milhares de templos, simples, mas animados pela oratória dos pastores e pela atividade voluntária dos obreiros. Desde os anos 80 atua também fora do Brasil. O explosivo crescimento gera preocupações, em especial da Igreja Católica, que redobra às críticas às seitas, acusando-as de explorar a ingenuidade dos fiéis e extorquir-lhes dinheiro. Nos anos 90 a Universal é alvo de uma campanha de acusações que vão de irregularidades na compra da Record e incêndio criminoso a envolvimento com o narcotráfico. Os pregadores da Universal revidam com veementes denúncias da presença do demônio nas outras religiões, em especial as afrobrasileiras, o espiritismo e o catolicismo. Em um programa da Record na madrugada de 12/10/95, o bispo Sérgio Von Helder vibra tapas e pontapés em uma imagem de N. Sª de Aparecida, na tentativa de demonstrar que trata-se de um ídolo sem poderes sobrenaturais; a Rede Globo de TV retransmite as cenas em horário nobre, provocando um clima de guerra religiosa, com ataques de católicos revoltados contra templos da Universal.

O bispo Edir Macedo veio a público para condenar a atitude de Sérgio Von Helder, e disse: “... agiu como criança e cometeu atos inconsequentes e desastrosos...”

Cresce também a presença relativa do espiritismo kardecista, da umbanda e do candomblé (que conquista fiéis de todas as raças e origens étnicas, enquanto uma parte busca a reafricanização, depurando-se de sincretismos). Para muitos brasileiros, estes cultos valem como opção complementar, compatível com a fé católica. Aumenta igualmente o número dos que não tem nenhuma religião. O Brasil assume a feição de um país de religiosidade pluralista, sobretudo nas maiores cidades, enquanto o predomínio católico sofre menos defecções no interior. Pesquisa de 1994, junto a 21 mil eleitores de todo o país, aponta 79,3% de católicos no interior, contra 67,0 % nas capitais e regiões metropolitanas (65,2% em S. Paulo e 59,3% no Rio). Em contrastes, os cultos evangélicos, os kardecistas e sobretudo os afobrasileiros, assim como os sem religião, são mais numerosos nos grandes centros.

A Igreja Católica mantém às vésperas do século 21 uma hegemonia ainda ampla porém em declínio. Seu rebanho é formado majoritariamente por católicos não praticantes, que só esporadicamente participam dos ritos da fé. Isola-se também devido à intransigente condenação do divórcio, aborto e dos métodos anticoncepcionais, mesmo em face do avanço da AIDS. Em resposta à evasão de fiéis, surge o Movimento da Renovação Carismática se situa na extremidade oposta ao engajamento pastoral, social e político das Comunidades Eclesais de Base; privilegia a esfera do espiritual, da individualidade, da família, da moral e dos costumes.

 
Referência  (Integralmente extraído e com as correções ortográficas realizadas por mim)
 
Alzugaray, D., & Alzugaray, C. (Eds.). (2000). Istoé Brasil 500 anos: Atlas histórico. São Paulo: Nova Geração. (p. 293)

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